quinta-feira, 3 de julho de 2014

KENNETH MAXWELL - Tumulto no Oriente Médio


Às vésperas do Ramadã, o Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL), um grupo jihadista extremista, capturou territórios no Iraque e na Síria, decretou a eliminação das fronteiras entre eles e estabeleceu um califado visto por muitos muçulmanos como herdeiro do poder exercido por Maomé. O primeiro califado foi criado no século 7º. O último califado otomano foi abolido em 1924. O líder do EIIL assumiu o nome de Abu Bakr al Baghdadi e se faz chamar de califa Ibrahim.
O EIIL está ativo na Síria e no Iraque desde 2004, mas o surpreendente sucesso que o movimento teve nos campos de batalha nos últimos 30 dias, com a desintegração do Exército iraquiano nas regiões sunitas do norte e oeste do país, deixando para trás todo o equipamento fornecido pelos Estados Unidos, causou choque no Oriente Médio e no mundo todo. O EIIL já contava com boas verbas e controlava campos de petróleo capturados no leste da Síria. Agora tem dinheiro saqueado de bancos iraquianos. O movimento capturou Mosul, importante cidade do Iraque, e a refinaria de petróleo de Baiji. Em seguida, tomou Tikrit, cidade onde Saddam Hussein nasceu.
Combatentes curdos se deslocaram para as fronteiras da região curda e assumiram o controle da província de Kirkuk. O Curdistão está isolado de Bagdá pelos insurgentes sunitas. Os curdos objetam há muito à política sectária e à falta de recursos do governo xiita de Bagdá, comandado pelo premiê Nouri al-Maliki.
As vitórias do EIIL criaram estranhas parcerias. O Irã apoia os xiitas em Bagdá e o mesmo vale para o sitiado regime alauita de Assad na Síria. Os EUA realizam voos com drones (aviões não tripulados) no Iraque e enviaram 300 homens das forças especiais para avaliar as condições e as necessidades das Forças Armadas do país. O Irã também enviou drones e assessores.
Mas a Rússia entregou cinco caças Su-30K e enviou especialistas a Bagdá. Os EUA ainda não forneceram os caças F-16 prometidos, cuja entrega foi postergada para setembro ou outubro pelo Congresso, tampouco os helicópteros de ataque Apache prometidos, cujos pilotos requererão meses de treinamento.
Obama quer um governo de unidade com todas as facções em Bagdá. Mas Maliki não está inclinado a renunciar, e curdos e sunitas não estão dispostos a aceitá-lo. Enquanto Obama pondera, o Iraque queima. E queima por conta dos erros políticos e dos erros das ações americanas do passado. Queima também pela ausência atual de uma resposta efetiva por parte de um governo aprisionado em impasses políticos e preocupado com questões internas em Washington.
Desta vez, o tempo, a estratégia e a história não estão do lado dos EUA. Folha, 03.07.2014.
www.abraao.com


www.abraao.com


www.abraao.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário