terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Arábia Saudita - Mulçumanos Sunitas contrários aos Xiitas do Irã e da Ditadura Síria - Critica Obama por escassez de credibilidade Motivo é a inação dos EUA na guerra síria

DIOGO BERCITO
DE JERUSALÉM
O príncipe saudita Turki al-Faisal, ex-chefe de Inteligência da monarquia, criticou anteontem a administração de Barack Obama afirmando que o americano sofre de indecisão e de perda de credibilidade junto a seus aliados.
"Nós vimos uma série de linhas vermelhas' traçadas pelo presidente que, com o passar do tempo, se tornaram rosadas e, eventualmente, completamente brancas", afirmou ele, referindo-se especialmente ao caso da Síria.
O presidente Obama havia dito, por exemplo, que o uso de armas químicas pelo regime do ditador sírio Bashar al-Assad significaria cruzar a chamada "linha vermelha".
Os relatos de um ataque químico contra a população síria em agosto, porém, levaram os EUA a um acordo para a destruição do arsenal químico de Assad, e não a esperada intervenção militar.
"Quando esse tipo de garantia vem do líder de um país como os EUA, esperamos que ele a mantenha", disse Faisal.
A Arábia Saudita, como potência muçulmana sunita, é rival da liderança xiita iraniana e de seu aliado, Assad.
Essa monarquia havia rejeitado, recentemente, seu posto no Conselho de Segurança da ONU, alegando que houve fracasso desse órgão em impedir a continuidade do massacre de civis na Síria.
Fonte: Folha, 17.12.13
www.abraao.com


www.abraao.com


www.abraao.com

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Com experiência ímpar em negociação nuclear, Brasil deveria ver acordo sobre o Irã como uma oportunidade

MATIAS SPEKTOR
O acordo deste domingo foi o ato político mais relevante dos últimos tempos: a negociação entre o Irã e o grupo P5+1 criou possibilidades antes inimagináveis.
No Brasil, recuperou-se a memória da Declaração de Teerã de três anos atrás.
À época, a diplomacia turco-brasileira defendeu princípios que o atual acordo consagra: o reconhecimento do direito inalienável do Irã de enriquecer urânio para fins pacíficos e a importância da interlocução direta com o regime em Teerã.
Em vez de celebrar, porém, a conversa pública brasileira abraçou certa amargura.
Circula na imprensa a noção segundo a qual o acordo de domingo seria muito similar à Declaração de Teerã (ou pior que ela). O mundo teria perdido três anos por culpa de grandes potências, que, enciumadas, teriam puxado o tapete do Brasil e da Turquia.
Tal leitura é equivocada.
Primeiro: o acordo deste domingo está baseado no entendimento de que somente sanções asfixiantes levam o Irã a fazer concessões significativas. Brasil e Turquia defendiam o oposto.
Segundo: os termos deste acordo de agora são muito mais profundos e abrangentes do que se buscou fazer em 2010.
Terceiro: Estados Unidos e Europa puxaram mesmo o tapete de Brasil e Turquia. Só que não o fizeram por ciúme, arrogância ou medo, mas devido à política interna norte-americana e à dinâmica da negociação entre os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
Ao ignorar as causas verdadeiras de nosso revés em Teerã --e ao fazer pouco do acordo recém-assinado--, atentamos contra os nossos próprios interesses.
Afinal, o novo governo iraniano precisa de toda a interlocução possível até maio do ano que vem, quando voltará à mesa de negociação. Forças poderosas apostarão em seu fracasso, e poucos países têm tantas condições de oferecer-lhe diálogo como o Brasil.
Em Genebra, na semana passada, os negociadores iranianos lembraram a iniciativa turco-brasileira mais de uma vez. E o presidente Rowhani repete: para ele, o Brasil é exemplo bem-sucedido de um país que, sob sanções no passado, livrou-se delas, preservando seu programa nuclear para fins civis.
Há algo mais. Nos próximos meses, ganhará fôlego o debate sobre a transformação do Oriente Médio em zona livre de armas nucleares.
As chances de Israel aceitar algo assim são ínfimas, claro, mas nada é impossível.
A experiência do Brasil é ímpar, pois se passaram mais de 30 anos de negociação entre a primeira proposta de uma zona dessa natureza em nosso entorno regional e a sua implementação efetiva. Temos algo a dizer.
Por isso, talvez devêssemos receber o resultado de domingo como uma oportunidade. Ao saber da notícia, o presidente turco foi veloz: "Este é um grande passo adiante... Parabenizo os negociadores por seu engajamento construtivo".
Aqui, ao contrário, o Planalto não se pronunciou. E a nota oficial resume-se a indicar que o governo brasileiro "tomou conhecimento, com satisfação".
Fonte: Folha, 27.11.2013.
www.abraao.com

www.abraao.com

www.abraao.com

Acordo com Irã atrasou 3 anos, diz Amorim
Texto anterior era mais duro com Teerã, afirma chanceler de Lula responsável por mediar pacto fracassado em 2010
Segundo Amorim, hoje ministro da Defesa, política interna dos americanos afetou as negociações na época
FERNANDO RODRIGUESDE BRASÍLIA
O ministro Celso Amorim (Defesa) afirma que o acordo sobre energia nuclear alinhavado em 2010 pelo Brasil e pela Turquia com o Irã era mais duro do que o atual, que acaba de ser anunciado.
Em certa medida, a negociação mediada em 2010 atenderia também mais aos interesses dos EUA do que o acerto do último domingo, assinado em Genebra entre Irã e o chamado P5+1 (EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Rússia e China).
Em entrevista à Folha e ao UOL, Amorim afirmou que "foram três anos perdidos" desde a iniciativa liderada por Brasil e Turquia. "Do ponto de vista dos países ocidentais e dos EUA, aquele acordo [de 2010] era muito simples, muito matemático. Era tudo muito verificável", diz o ministro da Defesa, que foi durante oito anos (2003-2010) o titular da pasta de Relações Exteriores no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
A diferença básica e mais relevante entre o acordo ensaiado em 2010 e o que foi firmado agora diz respeito a quem faria o enriquecimento do urânio. Há três anos, o Irã havia concordado em outorgar a outro país essa tarefa.
Pelo tratado atual, os próprios iranianos ficarão incumbidos dessa operação e depois se submeterão a algum tipo de fiscalização.
"Eu diria que o Irã estava fazendo uma concessão, naquela época, que não precisou fazer agora", diz Amorim, que participou diretamente da negociação em 2010. Naquele momento, o acordo acabou não prosperando porque o presidente dos EUA, Barack Obama, preferiu não levar as conversas adiante.
Ao analisar a razão pela qual as coisas não andaram há três anos, Amorim afirma ser "tentador dar vários tipos de resposta". O que torna tudo mais difícil de ser interpretado é que Brasil e Turquia obtiveram do Irã "exatamente aquilo que o presidente Obama tinha pedido", diz o ministro da Defesa. O desejo dos EUA foi detalhado em carta do próprio Obama a Lula.
Fatores políticos dentro dos EUA acabaram inviabilizando a execução final do acordo em 2010. Obama ainda estava no seu primeiro mandato e precisava garantir o apoio de todas as alas de seu partido na época, inclusive os mais conservadores, que viam com reticência um acordo nuclear com o Irã.
"Política interna e política internacional estão ligadas. Então, há relacionamentos internacionais dos Estados Unidos que têm reflexo na política interna", declara Amorim. Essa conjuntura acabou sendo "absolutamente preponderante" para o insucesso de três anos atrás.
HAITI
Líder de uma missão militar da ONU no Haiti desde 2004, o Brasil não será "uma guarda pretoriana de nenhum presidente haitiano", afirma o ministro da Defesa. Ele considera, entretanto, que o país não poderá "sair de uma maneira irresponsável" do território haitiano.
"Estamos fazendo uma retirada num ritmo bastante razoável. O Brasil tinha originalmente 1.200 homens. Esse número subiu para 2.300, mais ou menos. Já diminuímos cerca de 700 nos últimos dois anos e meio."
E quando será a retirada completa? "O que é desejável é que depois da próxima eleição, que deve ocorrer em dois, três anos, a gente esteja preparado para sair. E que o Haiti tenha a sua polícia nacional formada", diz Amorim.


terça-feira, 12 de novembro de 2013

Russia's Iran policy in transition

At the negotiations on the Iranian nuclear program in Geneva, progress was made. Although the first round ended without a deal, unusually optimistic forecasts are being heard about the second round, on Nov. 20. It seems that Iran and the United States, the main participants in the process, really want to change the atmosphere of their relationship, which has been hopelessly confrontational since the late 1970s.
The current stage differs from all previous efforts in that the participants are trying to get out of the rut that these discussions have always been in, and not just on the Iranian issue. Specifically, sanctions are never removed. Once imposed, they can only be increased, up to the use of force.
Moscow is following the events with great interest (basically, this is the model that Russia has always advocated), but also with caution. The view is expressed, for example, that Iran's return from isolation would be a loss for Russia, because the current “special” relationship is based largely on Tehran's being burdened by the sanctions and having nowhere else to turn but to Russia. This applies primarily to relations involving the construction of nuclear power plants and military and technical cooperation. But as soon as Iran has other opportunities, it will immediately reorient itself toward more influential Western countries. There is always the risk that the country that was eager to be “friendly” in times of trouble will turn away as soon as the grip of isolation loosens. This was seen to some extent in Libya under Gadhafi and in Serbia after Milosevic. 
The second argument for keeping Iran closed off is to keep the oil and gas of a major competitor from reaching the market. And the price of oil is still higher due to major consumers refusing to take Iran's production. More important, Iran's abundant reserves of natural gas cannot get to the European market and thereby compete with Gazprom. If Iran were to return to the ranks of “respectable” countries, the long-suffering Nabucco project, which is basically dead, could come back to life. Any easing of the external pressure on Tehran would surely make the Iranian market much more competitive for Russia. 
But on the other hand, if the “special relations” are based only on that our partner has nowhere else to turn, this is not sustainable anyway. Moreover, Moscow still cannot fully exploit Iran's isolation for its own commercial purposes — Russia is not prepared to enter into open conflict with America and the West for the sake of trade with Tehran. But now, the time to promote the “opening” of Iran, while maintaining the special relationship, is politically favorable.
The Syrian conflict, in all its diverse manifestations, has changed the diplomatic landscape in the Middle East. Russia's firm position, whatever it was based on (global considerations prevailing over regional ones), led to an unexpected result. The interests of Russia and Iran were closely aligned, much more so than earlier, when the two countries were essentially trying to exploit each other's difficulties to serve their own interests. The emergence of the situational — and also, at the present moment, logical — alliance between Moscow, Tehran, Baghdad, Damascus and Hezbollah has made Russia a more influential regional player than would have been expected two years ago. This course, based in essence not so much on the rapidly changing geopolitical situation as on the even more-stable religious factor, lays the foundation for action in the region.
Iran gets out of its deadlock with America but does not become its ally, both for cultural and psychological reasons and for political reasons. Especially since the United States cannot simply reverse course. It must still balance the thaw with Tehran with assurances to Saudi Arabia and Israel, two countries that have a very negative view of the current efforts to press the “reset” button. But establishing relations with Washington will allow Tehran to strengthen its regional positions, which are already quite formidable today. 
In other words, any deal between the United States and Iran will serve to enhance Tehran's influence in the Middle East, and Russia, which has already laid the groundwork for good relations with the Iranians, will likely benefit from this. Moscow is beginning to seriously rethink its policy toward the East due to the need to respond to the Asian challenge, and Iran is important. Eurasian economic integration (the Customs Union, etc.), security issues in Central Eurasia (Afghanistan, but not only that country), and the development of the Shanghai Cooperation Organization will all be affected by the Iranian factor. Incidentally, it is the UN sanctions that are preventing Iran from joining the SCO, which would enhance the status of both the organization and Tehran. This is all to say nothing of the Syrian matter, which is still going nowhere and will continue to play a defining role for the future of the Middle East. 
In Russia's actions, on Syria on the one hand and on Iran on the other, there is one more component that could potentially lead toward the resolution of a major international issue. 
The Nuclear Non-Proliferation Treaty, in effect since 1968, is undergoing a crisis. And it is not about specific countries that are attempting to acquire nuclear weapons, such as North Korea and Iran, or that have such weapons despite the NPT (like Israel or India and Pakistan). It is a fundamental question: on what basis did the five great powers claim for themselves the right to have nuclear arsenals, while deeming the similar desires of other countries illegal? Forty-five years ago, it was possible to adopt an overtly discriminatory decision and enforce it, primarily through the power of the two superpowers. But today, the world is undergoing an unprecedented political awakening, and calls to democratize the world order and end the monopoly of the “elite,” i.e., the permanent members of the UN Security Council, are being asserted more loudly everywhere. No moral arguments can be made in favor of maintaining the unequal state of affairs, and resources are wasted in trying to do this through military and political efforts or by force. In part, this is because the countries on which it depends long ago stopped taking a creative approach to these dilemmas, relying instead only on their own superiority.
We can try to untie knots one at a time, focusing on individual countries, as is happening now — the Iranian nuclear program, North Korean program, before that the Iraqi program (which was never found), and Libya — but there is nothing to be proud of. We only managed to stop Tripoli, and Gadhafi's subsequent fate has surely convinced others that they should never give up the nuclear deterrent: It's hazardous to your health. In each case, the problem of WMDs is intertwined with much more convoluted regional relationships, and the one cannot be separated from the other.
We need a qualitatively new approach to the very principles of the NPT, to give it a new legitimacy and begin a manageable and coordinated re-examination. This initiative can be taken only by the countries that still have the largest arsenals: Russia and the United States. There are basically two types of equality. Either everyone is prohibited — for example, in the Chemical Weapons Convention — or everyone is allowed, under certain conditions. The first option is not applicable to nuclear weapons; total renunciation of them is unrealistic, and even so it would not enhance peace given the enormous imbalance in conventional weapons between the major countries (more precisely, between the United States and all others). So only the second option remains.
Now the diplomats, soldiers, scientists and engineers have to think about this. The Syrian chemical weapons and now the Iranian “thaw” have forced Moscow and Washington to roll up their sleeves and get to work on a task that previously seemed irresolvable. If they succeed, there will be an incentive to have a go at other impossibilities.


terça-feira, 22 de outubro de 2013

O que leva um homem comum ao terrorismo?

LONDRES - Em sua confortável sala de estar em Londres, Sean O'Callaghan assistia pela televisão às imagens de pessoas aterrorizadas fugindo de militantes em um sofisticado shopping center do Quênia. Alguns dos que estavam lá foram questionados sobre a sua religião. Os muçulmanos foram poupados. Os não muçulmanos, executados.
"Meu Deus, esse é um bando de jihadistas violentos", disse um amigo, também irlandês, balançando a cabeça. "Nós costumávamos fazer a mesma coisa", replicou O'Callaghan.
Foi assim no massacre de Kingsmill, em 1976. Pistoleiros católicos pararam uma van com 12 trabalhadores no condado de Armagh, na Irlanda do Norte, libertaram o único católico do grupo, enfileiraram os 11 protestantes e os alvejaram um a um.
O'Callaghan, ex-membro paramilitar do Exército Republicano Irlandês (IRA), conhece de perto esse tipo de assassinato a sangue-frio. Num ensolarado dia de agosto de 1974, ele entrou em um bar de Omagh, na Irlanda do Norte, e baleou um homem que estava apoiado no balcão lendo o noticiário de turfe -homem este que, segundo lhe haviam dito, era um notório traidor da causa católica irlandesa.
Paralelos históricos são inevitavelmente falhos. Mas uma recente onda de carnificinas -o ataque em Nairóbi que deixou vários mortos, a execução de prisioneiros vendados por jihadistas sírios e os disparos feitos por um soldado egípcio contra a filha adolescente de um líder da Irmandade Muçulmana- gera uma questão: todos nós carregamos o ódio dentro de nós?
Muitos especialistas acreditam que sim. Para O'Callaghan, foi uma questão de foco. "O que você está vendo naquele momento não é um ser humano".
Superar a arraigada proscrição do assassinato não é fácil. Em seu livro "Ordinary Men" [Homens comuns], Christopher Browning descreve como um batalhão policial alemão formado por pais de família -de empresários a encanadores- teve dificuldades para executar milhares de judeus na Polônia. Como eles erravam disparos à queima-roupa. Como eles vomitavam e choravam depois de massacrar mães e crianças. Como eles precisavam se empenhar para se tornarem assassinos.
Uma cultura de autoridade e obediência, em que a responsabilidade moral individual é suplantada pela lealdade a uma missão maior, contribui para atenuar as inibições morais contra o homicídio, segundo psicólogos sociais. O mesmo se aplica à rotinização da violência, das injustiças e das dificuldades econômicas que levam o assassino a se enxergar como sendo a verdadeira vítima.
Mas o ingrediente mais importante talvez seja a desumanização da vítima, disse David Livingstone Smith, professor da Universidade da Nova Inglaterra, no Maine, e autor de "Less Than Human: Why We Demean, Enslave, and Exterminate Others" [Menos que humano: por que menosprezamos, escravizamos e exterminamos os outros].
"Pensar nos inimigos como categorias sub-humanas é uma forma de criar uma distância mental e de excluí-los da família humana. Isso torna o homicídio não só permissivo, mas obrigatório. Devemos matar vermes ou predadores."
Os hutus de Ruanda chamavam os tutsis de baratas, os nazistas retratavam os judeus como ratos. Os invasores japoneses se referiam a suas vítimas chinesas, durante o massacre de Nanjing, como "chancorro", ou "sub-humanos". Soldados americanos lutavam contra "hunos" bárbaros na 1a Guerra Mundial e contra "gooks" (termo pejorativo para descrever asiáticos) sem deus no Vietnã.
Na Irlanda do Norte, "taig" era um xingamento popular contra os católicos. Depois do início dos distúrbios da Irlanda do Norte, em 1968, imagens de católicos sendo expulsos de suas casas em Belfast por bombas invadiram o noticiário, criando um exército de jovens católicos indignados. Os protestantes também viraram "hunos".
Esses rótulos ajudam, disse John Horgan, diretor do Centro de Estudos do Terrorismo e da Segurança da Universidade de Massachusetts e autor de "Walking Away From Terrorism" [Afastando-se do terrorismo], livro que narra experiências de ex-militantes. No entanto, disse ele, "eles lutam contra a sua consciência". Não é coincidência, afirmou, que execuções feitas por terroristas geralmente envolvam o ato de encapuzar as vítimas. "Olhar na cara quando você mata alguém é uma coisa muito difícil de fazer."
O'Callaghan nunca ousou encarar o homem que ele matou naquele dia de 1974. Quando fecha os olhos, tudo que lhe vem é uma foto granulada do jornal do dia seguinte. Ele havia entrado para o IRA aos 15 anos. Espumando de raiva com a injustiça que via nos refugiados de Belfast que chegavam ao seu condado na República da Irlanda, ele se tornou um instrutor de explosivos e armas de fogo em campos próximos da sua casa.
Os mais velhos ensinavam aos mais jovens sobre a rebelião de 1916, fato elevado a um status quase místico por ter caído na segunda-feira posterior à Páscoa. Ele se encantou com a emotiva mistura de catolicismo e nacionalismo que movia os republicanos irlandeses.
Uma passagem de seis meses pela cadeia, depois de ele ser apanhado com explosivos, só aumentou sua fúria. Em maio de 1974, ele foi mandado para a Irlanda do Norte e participou de roubos e atentados a bomba. Certa noite, recebeu um telefonema de Harry White, galês que trabalhava para o IRA, com a dica de que Peter Flanagan, lendário no IRA como um católico vira-casaca e "chefe de torturas" da Polícia Real do Ulster, costumava almoçar no bar Broderick.
O'Callaghan tinha 19 anos. Ele localizou sua presa e direcionou seus olhos e sua arma para um torso sem rosto, de camisa azul. O jornal caiu. O torso se seguiu, rolando da banqueta do bar em câmera lenta. Uma voz implorou: "Não". Ele se lembrou do que sua avó havia lhe dito quando ele tinha apenas nove anos: "Quando você balear um policial britânico, o desenterre e atire de novo, porque não dá nunca para confiar neles".
Ele atirou oito vezes. Levou talvez de 10 a 15 segundos.
Anos depois, ele soube que Peter Flanagan não era o mostro em que o IRA o havia transformado. Flanagan estava desarmado, havia testemunhado contra policiais britânicos na Corte Europeia de Direitos Humanos, em Estrasburgo, e provavelmente nunca havia torturado uma só alma.
O'Callaghan acabou por se tornar informante da polícia irlandesa e posteriormente se entregou, confessando 42 crimes, inclusive a morte de Flanagan. Foi sentenciado a 539 anos de prisão. Após oito anos, foi perdoado e, em 1996, ganhou a liberdade. Rejeitou uma oferta de proteção a testemunhas.
Ele havia matado muitas vezes, emboscando sombras na escuridão de quartéis militares e disparando morteiros, mas nunca desse jeito, tão de perto. O torso ainda continua lhe vindo à mente, em sonhos e às vezes no meio do dia.
Mas o que mais o assombra foi um comentário que sua motorista, uma mulher chamada Lulu, fez naquele dia. A caminho do bar, ela havia ficado tão nervosa que entrou numa rua pela contramão, e eles se perderam. Mais tarde, depois de eles fugirem, desovarem o carro roubado e chegarem a uma casa segura, Lulu finalmente recuperou o fôlego. "Lamento pela mãe dele", disse ela.

Por KATRIN BENNHOLD

Fonte: Folha, NYT, 22.10.2012

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Estratégia ocidental de utilizar os Takfiri para que os países mulçumanos passem a ter foco em problemas domésticos

Segundo Alaeddin Boroujerdi, Presidente do Comitê de Segurança Nacional e da Política Externa do Parlamento Iraniano

Takfiri (quinta coluna ou "boi de piranha");

CIA admite apoio do Reino Unido na derrubada de Mohamad Mossadegh em agosto de 1953

www.abraao.com
www.abraao.com

Massacre de Rabia Al-Adawiya

www.abraao.com

Ayman Al-Zawahri - Lider da Al Qaeda (Islamismo político pela violência jihadista)

www.abraao.com
www.abraao.com

Mohammed Badie - Prisão do Líder Supremo da Irmandade Mulçumana (Islamismo político pela via institucional)

www.abraao.com
www.abraao.com
A construção de um Estado de Direito não passa por alijamento de qualquer facção, seja ela qual for. Democracia é construção permanente entre diversas visões de mundo. Fora isso é barbárie.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

L'Orient Le Jour


Hezbollah entre O Líbano e a Síria


 Lebanon: Hezbollah's Next Battle After Al-Qusayr
www.stratfor.com

Lebanon: Hezbollah's Next Battle After Al-Qusayr

May 24, 2013 | 1001 GMT
Summary

(JOSEPH EID/AFP/Getty Images)
Gunmen inside a building in the Sunni district of Bab al-Tabbaneh in Tripoli, Lebanon.
As Hezbollah and Syrian loyalist forces have stepped up an offensive in the Syrian city of Al-Qusayr to strengthen their grip on the vital Homs crossroads, it is no coincidence that the volatile district of Tripoli in northern Lebanon is also witnessing a flare-up between Alawites and Sunnis. With backing from Salafists in Tripoli, Syrian rebels routed from Al-Qusayr could attempt to draw Hezbollah's attention away from the city by triggering sectarian clashes in Lebanon. Meanwhile, Hezbollah will pick its battles carefully to preserve its strength and to pre-empt Sunni attempts to disrupt northern Lebanese supply routes into Syria. Both agendas point to increased violence in northern Lebanon.
Analysis
Tripoli entered its sixth day of sectarian clashes May 22. At least 17 people have been killed, two of who were Lebanese soldiers while the rest were civilians, and more than 100 have been wounded so far. Sniper fire on both sides of the conflict has largely halted traffic on the main highway from Tripoli east to the district of Akkar. The Lebanese army, heavily prone to sectarian fragmentation and thus highly reluctant to intervene forcefully, is doing little to contain the violence, but it has been causing considerable collateral damage with its own machine gun fire against suspected snipers.

The violence is centered on two warring neighborhoods, the predominantly Sunni Bab al-Tabbaneh district and the Alawite enclave of Jabal Mohsen.
For decades, residents of these neighborhoods have traded fire periodically. During the Lebanese Civil War from 1975 to 1990, Alawites in Jabal Mohsen sided with Syrian troops who had entered Lebanon to take on the al-Tawhid Movement, a Sunni Islamist group based in Bab al Tabbaneh. The neighborhoods have remained heavily armed since then, and their periodic battles have been in many ways microcosms of the region's broader sectarian conflicts.
So far, the latest flare-up in Tripoli has not surpassed the levels of violence typical in these neighborhoods. Reverberations from Hezbollah's successful offensive against Sunni rebels in Al-Qusayr, however, could lead to greater instability in Lebanon's northern rim.

Located in the Orontes River Valley, Al-Qusayr sits astride a supply route that is highly coveted by Syrian rebels and loyalists alike. Control over the city is critical to controlling the Syrian city of Homs, the vital crossroads linking Damascus to the Alawite-dominated coast and the Syrian city of Aleppo. The success of Hezbollah and loyalists so far in reducing Sunni resistance from Al-Qusayr is thus a major blow to the rebels. With loyalist forces and Hezbollah working to consolidate control of the main northern approach to Damascus (while loyalists also steadily regain strength along the main southern approaches to Damascus), the rebels' momentum is ebbing quickly.
The Syrian rebels understand that Hezbollah's steady buildup in Al-Qusayr over the past year played a key role in reinforcing the ability of Syrian President Bashar al Assad's regime to hold Homs. Dismayed by their losses at Al-Qusayr, some rebels may adjust their strategy to try to weaken Hezbollah's ability to reinforce Syrian troops. Rumors are circulating in the region that many fighters with Jabhat al-Nusra, a Syrian Islamist rebel group, in Al-Qusayr have retreated to northern Lebanon and that plans are brewing for an attempted Sunni offensive on the Alawite enclave of Jabal Mohsen. Lebanese Sunni fighters who joined the battle for Al-Qusayr are also reportedly returning home to fight.
Hezbollah fears that at least some Syrian rebels will try to draw on Lebanese Salafist support to open another front with Hezbollah in Lebanon and thus deflect the group's attention from the Syrian front. These concerns have been amplified by the recent fighting in Tripoli and by renewed attempts by Salafist cleric Sheikh Ahmad al-Assir to rile up resistance against Hezbollah in the southern Lebanese city of Sidon. Tripoli, a stronghold for Salafists and a sectarian powder keg as illustrated by the Bab al Tabbaneh and Jabal Mohsen clashes, is the logical place to attempt to trigger a sectarian showdown. But Hezbollah will be careful to avoid being drawn too deeply into a fight to reinforce Alawites in Tripoli and look instead to fighters from the Syrian Social Nationalist Party, a Lebanese pro-Syrian political party, to help Tripoli's Alawites strand their ground if fighting escalates.
Hezbollah is well aware of the risks to its operations in Syria. The dozens of casualties the group has suffered in the fight for Al-Qusayr have generated debate among Hezbollah supporters over whether they should remain heavily invested in al-Assad's fight, considering the losses of young fighters needed at home to defend against an emboldened Sunni community. Hezbollah has thus carefully avoided provocations by Lebanese Salafists, preferring to preserve its strength for future clashes with its Sunni adversaries.
Syrian-Lebanese Frontier
But maintaining control over key Lebanese supply routes into Syria will remain high on Hezbollah's list of priorities. As the group maintains its position in Al-Qusayr, it will devote attention to securing the Lebanese approaches to the city. There are two main supply routes that run through northern Lebanon into Syria. One extends northward from Hezbollah's stronghold in the Bekaa Valley through Baalbek district and up to Al-Qusayr. Another, more tenuous route stretches eastward from the port of Tripoli along the main highway through Akkar and onward to Al-Qusayr.
Hezbollah's next task is to prevent the Sunnis from disrupting these supply routes into northern Lebanon. While Syrian loyalist forces focus on retaking the Syrian city of Talkhalakh just north of the Lebanese border, Hezbollah -- with backing from Shiite fighters from the sizable al-Jaafar clan in the Lebanese district of Hermil -- will try to concentrate their forces on Akroum, a Sunni village that sits on the route through Akkar district. The battle over these supply lines will drive the Syrian spillover of violence into Lebanon, particularly in the wake of rebel losses at Al-Qusayr.
Terms of Use | Privacy Policy | Contact Us

© Copyright 2012 Stratfor. All rights reserved